5 de setembro de 2012

A REVITALIZAÇÃO DA IGREJA



Introdução:
A revitalização de igreja local é um tema muito importante para a realidade da Igreja contemporânea. Devido à necessidade que as igrejas locais, principalmente as históricas tem de uma renovação espiritual, bem como necessidades estruturais, a revitalização tem sido um assunto crescente em vários lugares.
No seio da igreja evangélica brasileira os temas revitalização, crescimento e relevância têm tomado a atenção de muitos líderes e até deixado alguns desesperados e desorientados sobre a vida da igreja e como devem exercer seus ministérios.

Acredito que aqueles que possuem bom senso e discernimento não discutirão a necessidade de revitalização e nem mesmo sobre crescimento, pois podemos encontrar uma base Bíblica bem sólida no que concerne a vontade de Deus em ter uma igreja vibrante, relevante e em crescimento constante.
Porém os problemas surgem quando o processo de crescimento e revitalização começa a ser elaborados, ou quando um grupo interessado na vida da igreja se reúne para discussão e planejamento para fazerem a igreja crescer ou mudar. O problema não está na discussão em si ou na necessidade dessas coisas. Os problemas estão nos pressupostos que envolvem o processo de revitalização, pois as visões sobre o assunto são diversas, eis algumas:

1.     Há aqueles que acreditam que a revitalização acontece quando a igreja se utiliza dos recursos disponibilizados pelo “nosso tempo” ou pela cultura.

No caso dessa tendência podemos afirmar que suas estratégias estão baseadas em uma contextualização radical, onde o sincretismo é peça fundamental e a cristianização de rituais pagãos são imprescindíveis.

Essa tendência é caracterizada por uma revitalização nas estruturas teológicas, litúrgicas e administrativas, os mesmos possuem um alto apreço pela secularização e comércio da religião.
 Podem-se ver campanhas políticas, cobrança para as apresentações, uso exagerado do Antigo Testamento (sem contexto) e um grande apelo à prosperidade. Também se pode observar uma negação do estudo teológico (A libertação da teologia), rejeição da tradição da igreja e um retorno ao governo oligárquico.

Lembro-me de questionar um pastor que recebeu a ordenação ao bispado, perguntei o porquê deixar o título de pastor e se tornar Bispo. A resposta foi a seguinte: “O título de pastor está ultrapassado, ninguém respeita mais e o pastor não tem mais autoridade devido aos escândalos”. Como isso aconteceu há onze anos se fosse hoje pularia direto ao título de Apóstolo – é a moda do momento!

 2.     No arraial evangélico encontramos os tradicionalistas.

Para essa tendência o valor religioso está no passado, às coisas antigas não podem ser modificadas e nem mesmo criticadas. Acreditam que a revitalização acontece quando a igreja retornar as estruturas antigas. Os tradicionalistas vêem com maus olhos novidades ou a contextualização. Percebe-se igrejas que seguem modelos de outros países e que eram muito úteis na época, mas com a mudança de cultura o modelo ficou irrelevante e muito rígido.

Um exemplo disso é o neopuritanismo, irmãos que buscam seguir o estilo de pregação e culto e outras coisas que eram comuns aos puritanos. Na verdade se seguissem de fato os puritanos seriam bem relevantes, pois os mesmos tinham a preocupação de a partir das Escrituras fazer a vontade de Deus e ser testemunho de Cristo na sociedade.

Há igrejas onde os líderes aprenderam a administrar e ensinar de um jeito, e tudo que aparenta ser diferente é errado, ou seja, acabam divinizando o sistema que aprenderam e nunca há um crescimento e mais aproximação daquilo que de fato é Bíblico. Esses não entendem que a igreja deve sempre se reformar, ou seja, buscar se adequar cada vez mais as Escrituras e não ficar presa ao sistema que muitas vezes é fruto da cultura ou de alguém especial.

Os tradicionalistas apagam o Espírito e vivem dentro de seu próprio mundo religioso. Por mais antigo e valoroso que seja um sistema, ele precisa se ajustar as Escrituras e ser relevante na sociedade que está inserido.

Obs: Quero lembrar que ser tradicional não é ser tradicionalista. Os tradicionais seguem os principais temas da reforma protestante e sua cosmovisão é a luz da Bíblia.

3.     Uma outra tendência de revitalização que chegou a pouco no Brasil são os chamados pós-modernos ou “igreja emergente”.

Talvez essa tendência seja a que mais reflete e dialoga sobre o tema “relevância da igreja”. Se não estou equivocado tenho ouvido mais sobre relevância desse grupo do que qualquer outro.

Os emergentes acreditam (com exceções) que a revitalização da igreja está no abrir mão da tradição (estilos e governos desenvolvidos historicamente) e alguns mais radicais rejeitam até mesmo algum tipo de estrutura que lembre a igreja histórica. Uma frase que ouvi há poucos dias revela esse pensamento: “Acredito em uma igreja ortodoxa na doutrina e relevante no culto e na administração”.

Sinceramente ainda estou pensando nisso, porque acho que o culto e a administração também devem ser ortodoxos. Ser ortodoxo é seguir a regra de fé das Escrituras para todas as áreas na eclesiologia e também na vida pessoal. “Acho” que alguns irmãos não acreditam mais que a Bíblia seja relevante e suficiente para a igreja local.

Vejo nesse grupo alguns dogmas serem rejeitados e revisões institucionais para que aqueles traumatizados com igreja possam ser arrebanhados. Não há mais coerência nos discursos, pois alguns pregadores desse movimento pregam algo hoje e no próximo domingo o sermão contradiz o anterior. Para esses o compromisso com uma teologia coerente é algo do passado ou “fundamentalismo”. Não ao dogma!!

Considero muito útil a busca por relevância e um constante repensar nas estruturas, porém penso que o padrão deve ser a Escritura e não a relevância em si mesma.
Alguns grupos emergentes se identificam bem com o pensamento evangélico conservador, vê-se uma busca saudável em se entender, e realmente há um desejo de ser Bíblico e contemporâneo, mas diferente.

Penso que o Pastor evangélico não se submete aos valores da cultura e seu desenvolvimento filosófico, mas é firmado na Revelação.  

4.     As tendências (movimentos) que mais visivelmente buscam revitalização são os caracterizados pelo pragmatismo religioso. O anterior reflete e dialoga antes de agir, este faz o que dá certo!

Esses recebem forte influência de modelos de crescimento de igreja, principalmente aqueles vindos do Atlântico Norte.
O pragmatismo é uma tendência que supervaloriza a quantidade, o ideal pragmático é se basear naquilo que funciona ou da certo.

Não é possível apontar somente um grupo, mas pode-se linear a história do movimento. Esse teve seu início formalmente no meio religioso com o Dr. Donald MacGravan, professor e pesquisador do Seminário Fuller. Suas pesquisas sobre as necessidades das igrejas e como fazer a igreja crescer, moldou muitos pensamentos sobre missões, implantação de igrejas e trabalhos para crescimento.
Através da visão pragmática é que surgiram os modelos de crescimento, baseados na mentalidade de busca por resultados. Como disse um amigo “precisamos fazer a igreja crescer”. O ponto de partida são as necessidades e gostos das pessoas e não o que a Bíblia diz.

O que quero enfatizar nesse artigo é que essa filosofia de ministério conduz seus influenciados a uma espécie de vale tudo, vê-se estruturas que deram certo em outros países sendo imitadas sem ao menos considerarem o perfil de Deus para aquela igreja. O pragmatismo não respeita a história da igreja local e nem sua identidade que foi formada pela experiência e reflexão Bíblica da comunidade com o Espírito.

É evidente pelas Escrituras que cada igreja local tem seu perfil como comunidade e a cultura do local e dos membros juntamente com o entendimento das Escrituras contribuem para o propósito de Deus.

Os modelos de crescimento de igreja têm prejudicado muito a pureza do Evangelho e o crescimento saudável, com firmeza Bíblica, fervor do Espírito e consciência da Missão.
A implantação de igreja hoje não é mais natural, valorizando as pessoas e evangelismo pessoal, mas cheia de estratégias de campo, pesquisas, lugar apropriado, etc. Os mesmos sistemas usados para começar uma empresa são usados na implantação e revitalização de igreja.

Diante dessas realidades quero através desse artigo fazer algumas considerações que poderão nos ajudar na reflexão sobre revitalização e talvez for útil no processo de uma revitalização a luz das Escrituras.

1.     A igreja precisa ser revitalizada pela pregação da Bíblia.

Quando falo de pregação Bíblica quero me referir ao método que explica o texto de acordo com seu contexto e aplica de maneira fiel aos propósitos de Deus.
Deus não precisa de modelos, mas de homens compromissados com sua Palavra, que pregam com autoridade e fidelidade. A Palavra ainda é viva, libertadora e revela o Salvador.

Alguns modelos de pregação recentes buscam agradar e satisfazer os ouvintes, por isso os temas dominam o sermão e muitas vezes a Bíblia é somente um objeto de uso pessoal. Nossa responsabilidade como Ministros é pastorear na e pela Palavra, como afirmam os textos – 1Tm 4.6-16; 2Tm 4.1-5.

2.     A igreja precisa ser revitalizada pelo cuidado das pessoas.

Nada é mais prejudicial ao rebanho de Deus do que pessoas que valorizam mais estruturas e métodos do que pessoas. Hoje é comum ouvirmos pessoas dizendo que são administradoras e outras argumentando que não é função pastoral a visitação ou discipulado de membros. Também se ouve de “pastores” que não sabem pregar e ensinar, coisas estranhas para quem lê a Bíblia.

Aquele que recebe como vocação o ofício pastoral tem a responsabilidade de cuidar do rebanho, fica evidente que esse cuidado é abrangente; pregação pública, de casa em casa, ensinando, aconselhando, orando, etc. Foi para isso que o Espírito Santo vos constituiu Bispos/Pastores para Pastorear e também Presbíteros – At 20.28; 1Pe 5.1-4.

3.     A igreja é revitalizada com evangelização e discipulado.

Se nossa responsabilidade é pastorear a igreja de Deus dentro dos limites da Bíblia, não podemos fugir aos mandamentos do Senhor. Seus métodos são eficazes e transformam vidas de fato.
O mandamento do Senhor é duplo nesse aspecto, pregar pessoalmente (evangelismo) e discipular, ensinando-os todas as coisas.

Aqueles que desejam revitalização aos moldes de Jesus, devem se deter a conduzir suas igrejas locais a evangelização mundial e investir para que os novos convertidos sejam moldados a imagem de Cristo, tanto no caráter como na doutrina.
Uma igreja empolgada com evangelização local e mundial, discipulando, logo seus membros ressurgirão com fervor e amor.

Quer algo mais relevante do que apresentar o evangelho de Jesus Cristo, denunciar os pecados e trazer pessoas para a vida eterna.
A revitalização que se preocupa mais com estrutura administrativa ou física do que com pessoas não pode vir dos céus. As estruturas são importantes quando servem aos propósitos estabelecidos na Palavra e são elaboradas a luz da mesma – Cl 2.19.

4.     A igreja é revitalizada pela oração.

Amados irmãos, tudo que Deus faz é por meio da oração. Em sua bendita providência, Ele nos deu um meio para alcançarmos seus tesouros e tornar as bênçãos espirituais reais em nossas vidas e igreja.

O Apóstolo compreendia isso, portanto, nos orienta a orar sempre – 1Ts 5.17. O mesmo Apóstolo revela que já somos abençoados com toda sorte de bênçãos espirituais, mas porque será que às vezes parece que nada acontece? Não seria porque somos medíocres na oração, quanto tempo dedicamos a conversar com Deus? Talvez nossas orações não são aceitas, porque não oramos como convém.

Quando olharmos para nossos irmãos antigos, poderemos ver uma igreja que estava em constante oração. Quando era necessário resolver qualquer questão, a melhor atitude era orar e jejuar. Assim poderiam afirmar que as decisões eram tomadas na direção do Espírito Santo – At 1; 13; 15.

A oração foi um estilo de vida e, mais importante do que fazer a igreja crescer era fazer a vontade de Deus e desenvolver comunhão no amor e doutrina – At 2.
Não tenho o desejo de retornar a igreja primitiva, isso é impossível. Porém aquilo que está escrito é para nosso ensino e com certeza existem verdades inspiradas a serem consideradas na vida dessa igreja mãe.

A igreja é revitalizada pela oração, pois a plenitude do Espírito se manifesta quando estamos quebrantados diante de Deus.

5.     A igreja é revitalizada pelo culto a Deus.

Talvez o que mais poderia revitalizar uma comunidade e é negligenciado é o culto. Desde o início da humanidade, as Escrituras revelam que o propósito de Deus é ser adorado.

A adoração em culto congregacional é a maior manifestação de compromisso de um povo com seu Deus em aliança e amor. É no culto que fazemos nossas declarações de fé e revelamos nossa comunhão em amor com a família de Deus.

O culto é o momento de todos estarem voltados com o coração a Deus ao mesmo tempo, buscando agradá-lo e confessando suas grandezas e necessidades de uns aos outros.
Para que esse culto cumpra com seu propósito é necessário pensar em sua estrutura Bíblica e em como Deus recebe esse culto. Como escrevi sobre isso em outro artigo não vou me preocupar com detalhes.

Um culto revitalizante segue os princípios Bíblicos e busca ser dinâmico em sua apresentação dramática a Deus.
A estrutura protestante do culto segue um padrão bem simples, tentando elaborar uma ordem seguindo orientações Bíblicas. Desenvolvemos a liturgia pensando nos aspectos essenciais, ou seja, acrescentar aquilo que é requerido por Deus e sempre com vistas em colocar Jesus como o centro das atenções.

Hoje em dia há uma busca exagerada por algo relevante e diante disso precisamos refletir se estamos realmente elaborando um culto que agrade a cultura e o povo, ou agrade a Deus. Uma liturgia que parte da reflexão Bíblica, sem excessos e libertinagens, é sempre relevante. Parece-me que alguns não consideram mais a Bíblia importante para a estrutura do culto público, me deparo com tantos discursos sobre culto relevante e contemporâneo que tenho me perguntado: “Quem é mais importante no culto? Ser relevante para quem? Deus ou os homens?

Conclusão:

Em relação a tudo isso chego à conclusão de que a Palavra de Deus ainda é relevante e continua sendo o meio de revitalização da Igreja. O Espírito e a Palavra são os meios usados por Deus para conceder graça e vida para aqueles que são seus.
Jesus continua preservando sua Igreja pela Palavra e a tem capacitado pela distribuição de dons e ações do Espírito da promessa.
O que a igreja de hoje mais precisa não é de modelos ou métodos empresariais, mas é de retornar as Escrituras, como sua única regra de fé, prática, governo e disciplina.

Voltemos à simplicidade dos princípios Bíblicos  

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