Introdução:
A
revitalização de igreja local é um tema muito importante para a realidade da
Igreja contemporânea. Devido à necessidade que as igrejas locais,
principalmente as históricas tem de uma renovação espiritual, bem como necessidades
estruturais, a revitalização tem sido um assunto crescente em vários lugares.
No
seio da igreja evangélica brasileira os temas revitalização, crescimento e
relevância têm tomado a atenção de muitos líderes e até deixado alguns
desesperados e desorientados sobre a vida da igreja e como devem exercer seus
ministérios.
Acredito
que aqueles que possuem bom senso e discernimento não discutirão a necessidade
de revitalização e nem mesmo sobre crescimento, pois podemos encontrar uma base
Bíblica bem sólida no que concerne a vontade de Deus em ter uma igreja
vibrante, relevante e em crescimento constante.
Porém
os problemas surgem quando o processo de crescimento e revitalização começa a
ser elaborados, ou quando um grupo interessado na vida da igreja se reúne para
discussão e planejamento para fazerem a igreja crescer ou mudar. O problema não
está na discussão em si ou na necessidade dessas coisas. Os problemas estão nos
pressupostos que envolvem o processo de revitalização, pois as visões sobre o
assunto são diversas, eis algumas:
1.
Há aqueles que
acreditam que a revitalização acontece quando a igreja se utiliza dos recursos
disponibilizados pelo “nosso tempo” ou pela cultura.
No caso dessa tendência
podemos afirmar que suas estratégias estão baseadas em uma contextualização
radical, onde o sincretismo é peça fundamental e a cristianização de rituais
pagãos são imprescindíveis.
Essa tendência é
caracterizada por uma revitalização nas estruturas teológicas, litúrgicas e
administrativas, os mesmos possuem um alto apreço pela secularização e comércio
da religião.
Podem-se ver campanhas políticas, cobrança
para as apresentações, uso exagerado do Antigo Testamento (sem contexto) e um
grande apelo à prosperidade. Também se pode observar uma negação do estudo
teológico (A libertação da teologia), rejeição da tradição da igreja e um
retorno ao governo oligárquico.
Lembro-me de questionar
um pastor que recebeu a ordenação ao bispado, perguntei o porquê deixar o
título de pastor e se tornar Bispo. A resposta foi a seguinte: “O título de
pastor está ultrapassado, ninguém respeita mais e o pastor não tem mais
autoridade devido aos escândalos”. Como isso aconteceu há onze anos se fosse
hoje pularia direto ao título de Apóstolo – é a moda do momento!
2.
No
arraial evangélico encontramos os tradicionalistas.
Para essa tendência o
valor religioso está no passado, às coisas antigas não podem ser modificadas e
nem mesmo criticadas. Acreditam que a revitalização acontece quando a igreja
retornar as estruturas antigas. Os tradicionalistas vêem com maus olhos
novidades ou a contextualização. Percebe-se igrejas que seguem modelos de
outros países e que eram muito úteis na época, mas com a mudança de cultura o
modelo ficou irrelevante e muito rígido.
Um exemplo disso é o
neopuritanismo, irmãos que buscam seguir o estilo de pregação e culto e outras
coisas que eram comuns aos puritanos. Na verdade se seguissem de fato os
puritanos seriam bem relevantes, pois os mesmos tinham a preocupação de a
partir das Escrituras fazer a vontade de Deus e ser testemunho de Cristo na
sociedade.
Há igrejas onde os
líderes aprenderam a administrar e ensinar de um jeito, e tudo que aparenta ser
diferente é errado, ou seja, acabam divinizando o sistema que aprenderam e
nunca há um crescimento e mais aproximação daquilo que de fato é Bíblico. Esses
não entendem que a igreja deve sempre se reformar, ou seja, buscar se adequar
cada vez mais as Escrituras e não ficar presa ao sistema que muitas vezes é
fruto da cultura ou de alguém especial.
Os tradicionalistas
apagam o Espírito e vivem dentro de seu próprio mundo religioso. Por mais
antigo e valoroso que seja um sistema, ele precisa se ajustar as Escrituras e
ser relevante na sociedade que está inserido.
Obs:
Quero lembrar que ser tradicional não é ser tradicionalista. Os tradicionais
seguem os principais temas da reforma protestante e sua cosmovisão é a luz da
Bíblia.
3.
Uma
outra tendência de revitalização que chegou a pouco no Brasil são os chamados pós-modernos
ou “igreja emergente”.
Talvez essa tendência seja
a que mais reflete e dialoga sobre o tema “relevância da igreja”. Se não estou
equivocado tenho ouvido mais sobre relevância desse grupo do que qualquer outro.
Os emergentes acreditam
(com exceções) que a revitalização da igreja está no abrir mão da tradição
(estilos e governos desenvolvidos historicamente) e alguns mais radicais
rejeitam até mesmo algum tipo de estrutura que lembre a igreja histórica. Uma
frase que ouvi há poucos dias revela esse pensamento: “Acredito em uma igreja
ortodoxa na doutrina e relevante no culto e na administração”.
Sinceramente ainda
estou pensando nisso, porque acho que o culto e a administração também devem
ser ortodoxos. Ser ortodoxo é seguir a regra de fé das Escrituras para todas as
áreas na eclesiologia e também na vida pessoal. “Acho” que alguns irmãos não
acreditam mais que a Bíblia seja relevante e suficiente para a igreja local.
Vejo nesse grupo alguns
dogmas serem rejeitados e revisões institucionais para que aqueles
traumatizados com igreja possam ser arrebanhados. Não há mais coerência nos
discursos, pois alguns pregadores desse movimento pregam algo hoje e no próximo
domingo o sermão contradiz o anterior. Para esses o compromisso com uma
teologia coerente é algo do passado ou “fundamentalismo”. Não ao dogma!!
Considero muito útil a
busca por relevância e um constante repensar nas estruturas, porém penso que o
padrão deve ser a Escritura e não a relevância em si mesma.
Alguns grupos
emergentes se identificam bem com o pensamento evangélico conservador, vê-se
uma busca saudável em se entender, e realmente há um desejo de ser Bíblico e
contemporâneo, mas diferente.
Penso que o Pastor
evangélico não se submete aos valores da cultura e seu desenvolvimento
filosófico, mas é firmado na Revelação.
4.
As
tendências (movimentos) que mais visivelmente buscam revitalização são os
caracterizados pelo pragmatismo religioso. O anterior reflete e dialoga antes
de agir, este faz o que dá certo!
Esses recebem forte
influência de modelos de crescimento de igreja, principalmente aqueles vindos
do Atlântico Norte.
O pragmatismo é uma
tendência que supervaloriza a quantidade, o ideal pragmático é se basear
naquilo que funciona ou da certo.
Não é possível apontar
somente um grupo, mas pode-se linear a história do movimento. Esse teve seu
início formalmente no meio religioso com o Dr. Donald MacGravan, professor e
pesquisador do Seminário Fuller. Suas pesquisas sobre as necessidades das
igrejas e como fazer a igreja crescer, moldou muitos pensamentos sobre missões,
implantação de igrejas e trabalhos para crescimento.
Através da visão
pragmática é que surgiram os modelos de crescimento, baseados na mentalidade de
busca por resultados. Como disse um amigo “precisamos fazer a igreja crescer”.
O ponto de partida são as necessidades e gostos das pessoas e não o que a
Bíblia diz.
O que quero enfatizar
nesse artigo é que essa filosofia de ministério conduz seus influenciados a uma
espécie de vale tudo, vê-se estruturas que deram certo em outros países sendo
imitadas sem ao menos considerarem o perfil de Deus para aquela igreja. O
pragmatismo não respeita a história da igreja local e nem sua identidade que
foi formada pela experiência e reflexão Bíblica da comunidade com o Espírito.
É evidente pelas
Escrituras que cada igreja local tem seu perfil como comunidade e a cultura do
local e dos membros juntamente com o entendimento das Escrituras contribuem
para o propósito de Deus.
Os modelos de
crescimento de igreja têm prejudicado muito a pureza do Evangelho e o
crescimento saudável, com firmeza Bíblica, fervor do Espírito e consciência da
Missão.
A implantação de igreja
hoje não é mais natural, valorizando as pessoas e evangelismo pessoal, mas
cheia de estratégias de campo, pesquisas, lugar apropriado, etc. Os mesmos
sistemas usados para começar uma empresa são usados na implantação e
revitalização de igreja.
Diante dessas
realidades quero através desse artigo fazer algumas considerações que poderão
nos ajudar na reflexão sobre revitalização e talvez for útil no processo de uma
revitalização a luz das Escrituras.
1.
A
igreja precisa ser revitalizada pela pregação da Bíblia.
Quando falo de pregação
Bíblica quero me referir ao método que explica o texto de acordo com seu
contexto e aplica de maneira fiel aos propósitos de Deus.
Deus não precisa de
modelos, mas de homens compromissados com sua Palavra, que pregam com
autoridade e fidelidade. A Palavra ainda é viva, libertadora e revela o
Salvador.
Alguns modelos de
pregação recentes buscam agradar e satisfazer os ouvintes, por isso os temas
dominam o sermão e muitas vezes a Bíblia é somente um objeto de uso pessoal. Nossa
responsabilidade como Ministros é pastorear na e pela Palavra, como afirmam os
textos – 1Tm 4.6-16; 2Tm 4.1-5.
2.
A
igreja precisa ser revitalizada pelo cuidado das pessoas.
Nada é mais prejudicial
ao rebanho de Deus do que pessoas que valorizam mais estruturas e métodos do
que pessoas. Hoje é comum ouvirmos pessoas dizendo que são administradoras e
outras argumentando que não é função pastoral a visitação ou discipulado de
membros. Também se ouve de “pastores” que não sabem pregar e ensinar, coisas
estranhas para quem lê a Bíblia.
Aquele que recebe como
vocação o ofício pastoral tem a responsabilidade de cuidar do rebanho, fica
evidente que esse cuidado é abrangente; pregação pública, de casa em casa,
ensinando, aconselhando, orando, etc. Foi para isso que o Espírito Santo vos
constituiu Bispos/Pastores para Pastorear e também Presbíteros – At 20.28; 1Pe
5.1-4.
3.
A
igreja é revitalizada com evangelização e discipulado.
Se nossa responsabilidade
é pastorear a igreja de Deus dentro dos limites da Bíblia, não podemos fugir
aos mandamentos do Senhor. Seus métodos são eficazes e transformam vidas de
fato.
O mandamento do Senhor
é duplo nesse aspecto, pregar pessoalmente (evangelismo) e discipular,
ensinando-os todas as coisas.
Aqueles que desejam
revitalização aos moldes de Jesus, devem se deter a conduzir suas igrejas
locais a evangelização mundial e investir para que os novos convertidos sejam
moldados a imagem de Cristo, tanto no caráter como na doutrina.
Uma igreja empolgada
com evangelização local e mundial, discipulando, logo seus membros ressurgirão
com fervor e amor.
Quer algo mais
relevante do que apresentar o evangelho de Jesus Cristo, denunciar os pecados e
trazer pessoas para a vida eterna.
A revitalização que se
preocupa mais com estrutura administrativa ou física do que com pessoas não
pode vir dos céus. As estruturas são importantes quando servem aos propósitos
estabelecidos na Palavra e são elaboradas a luz da mesma – Cl 2.19.
4.
A
igreja é revitalizada pela oração.
Amados irmãos, tudo que
Deus faz é por meio da oração. Em sua bendita providência, Ele nos deu um meio
para alcançarmos seus tesouros e tornar as bênçãos espirituais reais em nossas
vidas e igreja.
O Apóstolo compreendia
isso, portanto, nos orienta a orar sempre – 1Ts 5.17. O mesmo Apóstolo revela
que já somos abençoados com toda sorte de bênçãos espirituais, mas porque será
que às vezes parece que nada acontece? Não seria porque somos medíocres na
oração, quanto tempo dedicamos a conversar com Deus? Talvez nossas orações não
são aceitas, porque não oramos como convém.
Quando olharmos para
nossos irmãos antigos, poderemos ver uma igreja que estava em constante oração.
Quando era necessário resolver qualquer questão, a melhor atitude era orar e
jejuar. Assim poderiam afirmar que as decisões eram tomadas na direção do
Espírito Santo – At 1; 13; 15.
A oração foi um estilo
de vida e, mais importante do que fazer a igreja crescer era fazer a vontade de
Deus e desenvolver comunhão no amor e doutrina – At 2.
Não tenho o desejo de
retornar a igreja primitiva, isso é impossível. Porém aquilo que está escrito é
para nosso ensino e com certeza existem verdades inspiradas a serem
consideradas na vida dessa igreja mãe.
A igreja é revitalizada
pela oração, pois a plenitude do Espírito se manifesta quando estamos
quebrantados diante de Deus.
5.
A
igreja é revitalizada pelo culto a Deus.
Talvez o que mais
poderia revitalizar uma comunidade e é negligenciado é o culto. Desde o início
da humanidade, as Escrituras revelam que o propósito de Deus é ser adorado.
A adoração em culto
congregacional é a maior manifestação de compromisso de um povo com seu Deus em
aliança e amor. É no culto que fazemos nossas declarações de fé e revelamos
nossa comunhão em amor com a família de Deus.
O culto é o momento de
todos estarem voltados com o coração a Deus ao mesmo tempo, buscando agradá-lo
e confessando suas grandezas e necessidades de uns aos outros.
Para que esse culto
cumpra com seu propósito é necessário pensar em sua estrutura Bíblica e em como
Deus recebe esse culto. Como escrevi sobre isso em outro artigo não vou me
preocupar com detalhes.
Um culto revitalizante
segue os princípios Bíblicos e busca ser dinâmico em sua apresentação dramática
a Deus.
A estrutura protestante
do culto segue um padrão bem simples, tentando elaborar uma ordem seguindo
orientações Bíblicas. Desenvolvemos a liturgia pensando nos aspectos essenciais,
ou seja, acrescentar aquilo que é requerido por Deus e sempre com vistas em
colocar Jesus como o centro das atenções.
Hoje em dia há uma
busca exagerada por algo relevante e diante disso precisamos refletir se
estamos realmente elaborando um culto que agrade a cultura e o povo, ou agrade
a Deus. Uma liturgia que parte da reflexão Bíblica, sem excessos e
libertinagens, é sempre relevante. Parece-me que alguns não consideram mais a
Bíblia importante para a estrutura do culto público, me deparo com tantos
discursos sobre culto relevante e contemporâneo que tenho me perguntado: “Quem
é mais importante no culto? Ser relevante para quem? Deus ou os homens?
Conclusão:
Em relação a tudo isso
chego à conclusão de que a Palavra de Deus ainda é relevante e continua sendo o
meio de revitalização da Igreja. O Espírito e a Palavra são os meios usados por
Deus para conceder graça e vida para aqueles que são seus.
Jesus continua
preservando sua Igreja pela Palavra e a tem capacitado pela distribuição de
dons e ações do Espírito da promessa.
O que a igreja de hoje
mais precisa não é de modelos ou métodos empresariais, mas é de retornar as
Escrituras, como sua única regra de fé, prática, governo e disciplina.
Voltemos
à simplicidade dos princípios Bíblicos
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