Introdução:
Este breve artigo foi
adaptado de um sermão pregado na Igreja Cristã Evangélica do Parque das Nações,
não houve nenhuma alteração, somente um ajuste para o formato de artigo e um
adendo como nota explicativa, pois meus sermões escritos são mais rascunhados
do que uma estrutura formal.
Também é necessário dizer que esse sermão foge ao método usado por esse pregador, tenho plena convicção que o melhor método de pregação é a exposição de capítulos e livros da Bíblia, mesmo assim foi tentado ao máximo realizar uma pregação expositivo-temática. Queridos alunos de homilética, aqui se cumpre o que sempre digo: “Talvez se você pregar um sermão temático de dois em dois anos, você obtenha o perdão de Deus” – rsrsrsrsrs! O texto base do sermão foi Mateus 15.1-20 – o momento quando a tradição supera os mandamentos de Deus.
Também é necessário dizer que esse sermão foge ao método usado por esse pregador, tenho plena convicção que o melhor método de pregação é a exposição de capítulos e livros da Bíblia, mesmo assim foi tentado ao máximo realizar uma pregação expositivo-temática. Queridos alunos de homilética, aqui se cumpre o que sempre digo: “Talvez se você pregar um sermão temático de dois em dois anos, você obtenha o perdão de Deus” – rsrsrsrsrs! O texto base do sermão foi Mateus 15.1-20 – o momento quando a tradição supera os mandamentos de Deus.
Como nunca antes “na
história desse país” as pessoas estão desvalorizando e colocando de lado a Palavra
escrita de Deus (Bíblia). Por causa da busca de resultados instantâneos e da
super-valorização das emoções e das experiências particulares, a Bíblia tem
sido colocada de lado na prática e até mesmo em decisões importantes.
†
Um
Presbítero da igreja encontrou um conhecido que não via à tempos. Quando
começaram a conversar o Presbítero perguntou: “Você ainda está naquela Igreja
Batista?” O Fulano respondeu: “Não, mudei de igreja, preciso de algo novo,
diferente e naquela igreja eles só querem saber de Bíblia, Bíblia e Bíblia”.
Por mais cômico que seja e rimos com isso, o caso é sério e muito comum em
nossos dias. Gente! As pessoas não querem a Bíblia, querem entretenimento,
alegria e bem-estar.
†
Alguém menos informado e tradicionalista poderia dizer: “Isso é coisa de
Pentecostal”. Grande engano! Tenho pesquisado várias denominações que aderiram
à ordenação feminina; minha pesquisa é para entender os fundamentos
bíblicos/teológicos para essa decisão eclesiástica, porém há grande frustração,
pois as bases e argumentações são praticamente todas recebidas do movimento
feminista ou do relativismo que envolve algumas igrejas. A Igreja Anglicana,
nem se quer consultou a Bíblia para sua decisão em 1992. Algumas Igrejas
Presbiterianas e Batistas usam argumentos igualitaristas e sem nenhuma base na
Escritura. Pois bem, agora já é bem possível a ordenação de homo-afetivos, a
liberalização do aborto, etc. “A Bíblia é ultrapassada e não regulamenta
assuntos modernos”. Sinto muito por isso!
Não estou aqui propondo
a discussão sobre ordenação feminina, é assunto para o futuro, mesmo que esteja
de acordo com a posição histórica da Igreja e da Missão da Mulher, minha
intenção é ilustrar a rejeição prática da Bíblia como Palavra de Deus e regra
de fé.
As
pessoas dizem acreditar na Bíblia e afirmam que seus ensinos são importantes,
mas em muitos casos aquilo que dizem acreditar não é confirmado pela prática,
governo e disciplina. Gosto muito da afirmação sincera e digna do Bispo
Robinson Cavalcante: “Nossa Igreja é soteriologicamente calvinista (bíblica),
mas a nível eclesiástico somos Romanos”. É preciso ter coragem e respeito pela
Palavra de Deus para afirmar publicamente que em determinados aspectos sua
igreja não se submete à Escritura.
Quantos
costumes, doutrinas, experiências, ministérios, crenças supersticiosas e
palavras, surgem como fruto da imaginação humana e não através de um estudo
sério e sincero da Bíblia, em alguns casos até o linguajar é esquisito.
Por
todas essas coisas é necessário afirmar que a Bíblia continua sendo a Palavra
de Deus e é suficiente para nossa fé, vida com Deus e cumprimento da Missão. Todas
as coisas necessárias para nossa salvação, comunhão, vida social, bem estar da
Igreja e vida familiar estão claramente reveladas na Bíblia. A Bíblia não
responde todas as nossas perguntas, mas nos revela claramente aquilo que é necessário
e suficiente, aquilo que não é claro é possível através de muita cautela
deduzir a vontade de Deus, estudando e meditando na totalidade da Escritura.
† A doutrina da suficiência da Bíblia
nos leva a uma pergunta: Por que a Bíblia é suficiente? O que garante que não
precisamos de mais nada e que o Espírito fala pela Escritura.
Vejamos
algumas características da Bíblia que confirmam internamente sua suficiência e
poder.
Em primeiro lugar a Bíblia é
suficiente porque é a Palavra de Deus. Algumas pessoas e
religiões afirmam ser a Bíblia um livro comum, sagrado pelo assunto e por ser
acreditado pelo Cristianismo e importante nos diálogos religiosos e ecumênicos.
Para
os “novos evangélicos” (novas igrejas que não seguem o cristianismo histórico),
a Bíblia é a Palavra de Deus, mas para os dilemas da vida cotidiana ela não
possui respostas e há um teor muito moralista, radical e ultrapassado. Isso
exige uma releitura, esta através de novas interpretações ou até mesmo de novas
revelações do Espírito.
A
própria Escritura desaprova essas perspectivas, a Bíblia não foi produção religiosa
independente, e nem mesmo fruto da imaginação de um ou outro profeta
desinformado ou sob surto esquizofrênico. Não é fruto de invenção humana, pois
a própria Escritura afirma que os autores da Bíblia foram homens comuns, porém
movidos pelo próprio Deus, ela é sempre atual e relevante. Ele, na medida que
escolhia seus cooperadores escritores os movia pelo Espírito Santo, esse mover
foi exclusivo e sobrenatural, mesmo assim o Espírito continuou utilizando as
características humanas na escrita e nos costumes. Isso quer dizer que tudo que
está escrito, está escrito por vontade de Deus e propositalmente. A Bíblia se
torna um Livro – Divino/Humano, a Palavra de Deus recebida como revelação e
transmitida em linguagem humana, submetida a métodos literários e sendo
necessários critérios para uma correta interpretação – leia 2Pedro 1.20-21.
Outra
questão importante é que os autores bíblicos são testemunhas oculares e de
primeira ordem (não como pensa Karth Barth, ainda que sou devedor a ele). A
transmissão da revelação não aconteceu como fruto da religiosidade de Israel ou
invenção mitológica para exaltar o Cristo da Fé, os “crentes” que se
fundamentam na Escritura entendem pela própria Escritura que os autores
bíblicos ouviam face a face ou através de sonhos e visões as Palavras de Deus.
Em alguns casos essa manifestação era um ditado, em outras o próprio Deus
escreve (dez mandamentos), há relatos verdadeiros extraídos de outros livros e
confirmados pelo Espírito e na consumação a Palavra é encarnada e suas Palavras
e obras são registradas como genuínas Palavras de Deus. Como diz em Hebreus
1.1-2: “Deus falou de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos
dias, nos falou pelo Filho...”. Aqui temos a revelação concluída – Antigo e
Novo Testamentos, Deus falando à humanidade, agora por sua Palavra escrita. Ex 20.1-17,
34.27; Jo 1.1; 1Jo 1.1-3; Etc.
Em segundo lugar a Bíblia é
suficiente porque foi inspirada por Deus. Este ponto
poderia estar incluído no anterior, porém devido à dificuldade que muitas
pessoas têm para aceitar e entender a inspiração,
achei mais didático tratar separadamente.
Como já foi visto, a
Bíblia é um Livro Divino e Humano ao mesmo tempo, se a Escritura afirma essa
verdade, como é possível? A resposta está na palavra Inspiração.
Esse
conceito pode ser a pedra de tropeço para muitas pessoas. Começo demonstrando
isso através de dois relatos. Alguns pastores estavam reunidos e por alguma
razão, alguém citou 1Cor 7 para falar sobre casamento, após alguns minutos
outro pastor que não concordou com o que havia sido dito, respondeu: “Isso não
é válido, pois o Apóstolo Paulo não serve como exemplo para falar de casamento”
e ainda mais, “Paulo fala que ele está dizendo e não o Senhor”! Fiquei admirado
com a compreensão equivocada desse Ministro sobre a Bíblia, será que esse irmão
não aprendeu sobre inspiração no seminário? A Bíblia não diz que “toda a Escritura é inspirada”, ou seja,
Palavra de Deus?
O
sentido óbvio do texto é que o Apóstolo fala que, o que ele está dizendo não
foi dito por Jesus, é algo novo, ou seja, ele está dizendo como aquele que
recebe revelação e na autoridade Apostólica, sob inspiração do Espírito.
Outro
relato foi uma conversa com um amigo que começou a realizar “novenas” na
igreja, eu perguntei: Porque vocês precisam dessas novenas de sete em sete dias
para conquistar as coisas ou para buscar a Deus? Ele respondeu: “É necessário
motivar a fé das pessoas, sem algo assim eles não ficarão na igreja, as
campanhas geram fé nos irmãos”. Indignado eu respondi que essa era a função da
Bíblia, é isso que diz em Romanos 10.17, então a pregação deveria ser a única
alternativa. Assim a última resposta foi: “Os irmãos não querem saber disso,
eles precisam de algo novo, que motiva e os mantêm na igreja”. É! Que pena!
Essa
mentalidade é que faz de nossa nação um campo fértil para heresias,
esquisitices, esoterismo, modelos de crescimento de igreja e etc, etc, etc,
etc!!!
A
inspiração é que faz a Bíblia ser o diferencial de outros livros sagrados. O
fato é que o Deus criador de todas as coisas, Senhor da terra e tudo o que nela
há, resolveu por sua livre escolha e decreto se revelar a humanidade. Essa
revelação, primeiro foi geral. Através da criação, a Bíblia relata que é
possível conhecer Deus e seus atributos. A questão é que o pecado obscureceu o
entendimento do ser humano, e este em lugar de adorar, reconhecer e viver para
a glória de Deus, trocou o propósito e começou a fazer abominações idólatras,
trazendo para si condenação e afastamento total do Criador – Romanos 1.18-27;
3.9-18,23.
A
queda do ser humano, ofuscou seu entendimento. O Criador em seu decreto (conselho,
beneplácito), por sua imensa graça e misericórdia, a fim de revelar Sua Eterna
Glória e Sabedoria no propósito de salvar alguns para sua presença e justamente
manter os outros para juízo, providenciou meios para que sua vontade
prevalecesse diante de tamanha rebelião e orgulho. O meio natural não foi
suficiente, devido ao pecado; mas agora aprouve ao Criador revelar de forma
especial em Jesus e na Escritura (Bíblia), Sua vontade, seus atributos e a obra
da redenção em Cristo. Essa revelação especial é conhecida conforme descrição
de Hebreus capítulo 1 - Deus falou,
de diversas maneiras pelos profetas, agora fala
pelo Filho (Jesus). Essa fala de Deus não foi transmitida como telefone sem
fio, sendo alterada ou acrescentada, mas esses Profetas, registraram as
revelações que iam recebendo. No Novo Testamento, os Apóstolos ou alguém que
andou com um Apóstolo registraram tudo o que viram e ouviram, como testemunhas oculares do próprio Jesus em vida
ou sob revelação direta do Cristo ressuscitado.
A
inspiração significa que tudo que receberam diretamente de Deus ou foram
tocados por Ele, eles registraram. O
Espírito de forma poderosa estava conduzindo-os em toda a verdade, controlando propositalmente tudo que estava sendo
registrado (escrito). Até mesmo as palavras não diretas de Deus devem ser
incluídas na Escritura como sendo a Palavra de Deus, pois tudo quanto está
escrito na Escritura é inspirado e plenamente a vontade do Espírito.
A
conclusão é que se o texto bíblico (2Tm 3.16; 2Pe 1.20-21), confirma a atuação
direta naqueles homens comuns e ainda afirma que a Escritura é plenamente
inspirada, podemos descansar que toda a vontade de Deus está na Escritura, é
por meio dela que Ele nos fala e conduz. Não há nenhuma necessidade de outros
recursos ou a espera de manifestações místicas ou mesmo aparição de algum “anjo”
ou mestre especial como mediador. A inspiração é a base e convicção da suficiência
da Escritura.
Qualquer
outra forma de se relacionar com Deus e conduzir a vida cristã é subjetiva e
passível de erros e muitas dúvidas, meu “apelo” aqui é: retornemos à Escritura,
como fundamento e regra de fé, governo e disciplina, o único instrumento de juízo verdadeiro e única revelação e doutrina
verdadeira - “Sola Scriptura”.
Não
rejeito a tradição e nem mesmo acredito ser apropriado lançar mão dela, o
Espírito de fato tem conduzido sua Igreja ao longo da história, estamos sobre
os ombros de homens de Deus e que interpretam corretamente a Escritura, mas
mesmo com todo meu respeito e paixão pela tradição, a Escritura sempre é a
palavra final!
Quando
a tradição tem apoio da Escritura ela de fato é recurso de Deus para o bem da
Igreja, quando acontece o contrário, vemos o resultado na repreensão de Jesus
no texto de Mt 15 – leia 2Tm 3.16.
Uma
nota:
Quando ensino sobre a doutrina da suficiência
da Escritura, alguns alunos mais entusiasmados me questionam, dizendo: “Pastor,
então quer dizer que o Sr não acredita nos dons”? Agora que decidi escrever um
artigo sobre isso e estou começando a ter idade de perder alguns receios,
resolvi arriscar um pouco e escrever sobre essa questão.
Eu estou em pleno acordo com a teologia
reformada sobre essa questão, porém duvido de alguns plenamente cessacionistas.
Um texto cessacionista que mexe comigo é Hb 2.1-4, o texto é claro que os dons
eram manifestações que confirmavam a palavra falada, assim como sinais e prodígios.
A questão é que realmente, com a palavra falada sendo escrita não há
necessidade de distribuição de dons, isso está claro pelo fato de não acontecer
mais sinais e prodígios, isso foi confirmação Apostólica e não é visto mais em
nenhum lugar. Não tenho motivos para acreditar na cessação de sinais e não dos
dons. Minha conclusão aqui é claramente conhecida pelo fato de não ser cessacionista
absoluto, mas acredito que pelo menos alguns dons cessaram.
Por que não apoio o cessacionismo
absoluto? Há um mistério sobre a questão dos dons e na rotulação cessacionista
e contemporaneidade. Não consigo ver tanta clareza como os cessacionistas
absolutos e nem como vêem os da contemporaneidade.
Na questão da contemporaneidade tenho
um olhar especial para 1Cor 1.6, o texto citado afirma que os irmãos receberam
a graça em Cristo, essa graça os enriquece com todas as coisas e confirmam em
Cristo oferecendo a eles os dons, entendo que estes dons serão oferecidos até a
vinda de Cristo e assim permanecerão sendo confirmados e aperfeiçoados, isso é
possível também ver em Ef 4. Tenho certeza que pelo menos alguns dons estão em
vigor e são úteis para o aperfeiçoamento e edificação da Igreja, por isso sou
pastor e não serei apóstolo. Estes não existem mais, mas o presbiterato
permanece firme.
Esse antinômio da doutrina dos dons me
auxiliam na suficiência da Escritura, pois se vejo uma dificuldade sem muitas
explicações, isso deve me aproximar da suficiência e acreditar naquilo que é
óbvio e claro, ou seja, deixar sobre o juízo de Deus e não sobre a
subjetividade da experiência particular de alguém ou de algum movimento qualquer.
Agora uma convicção tenho, mesmo havendo dúvidas sobre a questão, a liberdade
absoluta de Deus é bem compatível com a suficiência.
Nosso Deus em sua Soberania, pode atuar
com ou sem os meios que criou ou destinou, isso me leva à possibilidade da
distribuição de dons, se ele assim desejar. Deus não está preso a nada e não
depende de nada para fazer o que quer e quando quer, Ele e somente Ele é
absolutamente livre!
Conclusão:
Não
precisamos de mais nada, pois a única regra de fé e prática na vida é a Bíblia,
pois ela é a Palavra de Deus. Nós recebemos fé e alimento espiritual pela
Palavra, conhecemos a Deus e seu plano pela Palavra e conhecemos a salvação
pela Palavra – leia Salmos 119.18.