6 de julho de 2013

Pregação Expositiva: Não há outro método!

Introdução:
Em um artigo recente escrevi sobre a suficiência da Escritura, esta é uma doutrina que realmente acredito. Porém não tem possibilidade de ser um pregador da Bíblia, acreditando na suficiência e não ser adepto do método expositivo de pregação. Por isso, venho por meio deste, mesmo sendo um pouco longo, pois é a introdução de uma monografia, divulgar uma defesa explícita e convicta do único método que verdadeiramente honra a Escritura como palavra de Deus.

O que é pregação expositiva?

A pregação expositiva é um método de pregação e um estilo homilético de exposição da palavra escrita de Deus (Bíblia) de modo fiel ao texto, no qual quem fala é a própria Palavra e faz com que o pregador se submeta à ação do Espírito Santo um verdadeiro servo da Palavra.
Na pregação expositiva o mais importante é a palavra de Deus, pois esse foi o modo que Deus escolheu para se revelar a humanidade e para produzir fé e intimidade com os seres humanos, sempre com a presença do Espírito Santo falando e convencendo os ouvintes. A Confissão de fé de Westminster, a última Confissão Reformada propõe essa dinâmica de ação entre o Espírito e a palavra de Deus:

“...todas as opiniões dos antigos escritores, todas as doutrinas de homens e opiniões particulares, o Juiz Supremo em cuja sentença nos devemos firmar não pode ser outro senão o Espírito Santo falando na Escritura”.

Durante a história da Igreja de Cristo, muitos oradores santos usaram recursos e modelos de exposição da revelação de Deus. Devido à necessidade da mente humana os métodos de exposição e de ensino são necessários para que a Palavra seja entendida e possa ser praticada de forma relevante e concreta. Para isso uma argumentação sistemática e lógica é muito proveitosa na realização do ofício do pregador, pois o mesmo pode transmitir a verdade de Deus com muita eficiência e clareza.
A explicação do Rev.Hernandes Dias Lopes traz uma lucidez muito importante para começar a compreender esse método e a necessidade do mesmo para a edificação da igreja local, ele diz:

“... a pregação expositiva tem o compromisso de explicar o texto da Escritura segundo o seu significado histórico, contextual e interpretativo, transmitindo aos ouvintes contemporâneos a clara mensagem da Palavra de Deus com aplicação pertinente” (LOPES, 2004, p.18).

Essa definição é muito clara no que pretende. Mostra o compromisso da pregação em explicar o texto bíblico para que os ouvintes possam tomar uma decisão de acordo com seu entendimento e disposição. O autor quer mostrar a integridade do método quando se crê que a intenção do pregador é falar da parte de Deus e fazer com que o povo conheça a sua vontade, sendo assim a pregação expositiva é simplesmente expor a Escritura com seu sentido original e aplicando seu conteúdo ao coração do homem contemporâneo.
Mesmo sendo um método nobre pelo que representa e faz na prática a pregação expositiva tem perdido seu valor em nossos púlpitos. Muitos pregadores evangélicos não sabem que método é esse e muito menos estão interessados em usá-lo devido sua falta de conhecimento e disposição para sua elaboração. É necessário considerar também que o desinteresse pela exposição em muitos casos acontece pelo desejo excessivo de crescimento numérico da igreja local ou por falta de conhecimento bíblico adequado.
É muito comum entre os membros nas igrejas e os pregadores de hoje acharem que tudo que se fala da Bíblia é exposição ou é pregação bíblica, mas isso pode ser uma falácia, pois tem surgido em grande número no seio da igreja cristã evangélica homens utilizando a palavra de Deus ou expondo um tema sobre a palavra de Deus, sendo assim em muitos lugares já desapareceu a exposição exegética e contextual. Aqui é necessário se arriscar e dizer que em algumas igrejas locais Deus não tem falado mais, pois alguns pregadores estão usando a Bíblia para que eles mesmos possam falar e para que os ouvintes acreditem que a voz que estão ouvindo é a de Deus.
Alguns pregadores sérios têm chegado à conclusão de que as igrejas locais no campo religioso brasileiro precisam urgentemente de uma restauração em seus púlpitos e um retorno ao ensino homilético de qualidade e que o método expositivo é a melhor forma de alcançar esse objetivo. O Rev. Hernandes Dias Lopes expressa seu sentimento dizendo: “De fato, muitos pastores e membros de igreja entraram numa profunda letargia espiritual. Um reavivamento no púlpito e nos bancos é absolutamente necessário” (LOPES, 2004, p. 11).
O entendimento sobre a pregação expositiva deve estar bem claro nas mentes daqueles que têm sido vocacionados para o ministério da Palavra, pois a ordem ao vocacionado é: “prega a Palavra”.
O objetivo primário da pregação bíblica é levar a igreja à maturidade espiritual e ao crescimento saudável a fim de formar discípulos parecidos com Cristo. A pregação expositiva se propõe a isso, nesse caso a definição de Walter L. Liefeld é bem esclarecedora:

“Pregação Expositiva é explicação aplicada... A natureza essencial da pregação expositiva, portanto, é pregação que explica a passagem de uma maneira que leve a igreja a uma aplicação verdadeira e prática da passagem” (LIEFELD, 1985).

Quando este método é estudado percebe-se a grande dificuldade que alguns pregadores têm para entender a diferença de outros métodos. A pregação expositiva é muito confundida com o método textual; este é muito usado e ensinado em seminários evangélicos e com certeza o pregador poderá usá-lo como exposição textual, sendo fiel ao texto usado e explicando seu contexto à luz de outras passagens da Bíblia. O método de pregação textual também tem sido importante na história da igreja e se for usado legitimamente e com cuidado pode ser um instrumento de edificação espiritual, porém para uma melhor compreensão é essencial entender a diferença; essa diferença é muito bem elaborada por Robson M. Marinho, quando diz: “Numa visão superficial, pode parecer que o sermão textual e o expositivo são bem semelhantes, pelo fato de ambos se originarem no texto bíblico. Mas a diferença vai além do tamanho do texto” (Marinho, 1999, p. 145).
O mesmo autor descreve as principais diferenças, dizendo que:

“o sermão textual extrai as divisões principais do texto, mas as subdivisões são construídas conforme a argumentação do pregador, enquanto o sermão expositivo constrói as subdivisões a partir das circunstâncias do texto”. Outra diferença é que “o sermão textual limita-se a um versículo da Bíblia, enquanto o expositivo pode usar uma narrativa ou um conceito de um ou mais capítulos, ou até de um livro inteiro da Bíblia. Um sermão expositivo pode abordar, por exemplo, a vida do profeta Jonas, utilizando todo o livro para extrair as divisões e subdivisões da idéia central”. O autor também declara que no textual, “o estudo do contexto é recomendável: no expositivo é indispensável, pois, do contrário, o sermão deixa de ser expositivo(1999, p. 146)”. 

O conhecido “príncipe dos pregadores” Charles Haddon Spurgeon (Spurgeon, 1996) era especialista na pregação textual, porém sua pregação textual era baseada em uma aplicada exegese e na explicação de algum texto específico. Percebe-se que até mesmo suas características temáticas eram trabalhadas na perspectiva do que alguns chamam hoje de pregação expositiva temática. Lendo seus sermões pode- se ver claramente um grande cuidado e fidelidade ao texto e contexto da Bíblia.
É importante lembrar que Spurgeon tinha uma habilidade muito grande nos estudos e na oratória, algo que não se aplica à maioria das pessoas e principalmente aos pregadores brasileiros. Também os pregadores de hoje não têm sido influenciados por esse brilhante pregador, pelo contrário, alguns nem sabem que esse notável servo de Deus existiu. O problema é que as influências de hoje estão nos campos da Psicologia, Filosofia e das técnicas de liderança e marketing e não nos campos da oração, exegese bíblica e de uma teologia comprometida com a verdade das Escrituras. 
A pregação expositiva se baseia no labor e na busca intensa de expor um texto mais extenso de acordo com o contexto e intenção do autor, a mesma extrai o tema e os tópicos oferecidos pelo próprio texto e aprofunda seu significado com aplicação direta aos ouvintes; um grande pregador chamado Haddon Robinson escrevendo sua tese sobre Pregação Bíblica diz:

“A pregação expositiva é a comunicação de um conceito bíblico, derivado de, e transmitido através de um estudo histórico, gramatical e literário de uma passagem no seu contexto, que o Espírito Santo primeiramente aplica à personalidade e experiência do pregador, e depois, através dele, aos seus ouvintes” (ROBINSON, 1983). 

A pregação deve ser em sua essência e propósito, bíblica, sem que a Bíblia seja apenas um instrumento a ser usado ou manipulado, porém a Bíblia nas mãos de um pregador deve ser explicada e aplicada para que seu propósito se cumpra como palavra viva e transformadora de Deus nos corações dos ouvintes. De acordo com a Bíblia parece que esse é o desejo de Deus, quando declara : “...assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei(Isaías 55: 11 – ARA)”.
A mensagem de Deus aqui deveria ser o suficiente para que o pregador se esforce em anunciar a palavra de Deus de acordo com o desígnio de Deus revelado no texto das Escrituras Sagradas.
Se a pregação expositiva se propõe a explicar o texto bíblico, pode-se concluir que pregação expositiva é simplesmente expor um texto à luz de seu contexto e sua estrutura se limita às porções exegéticas do próprio texto.
Na exposição o pregador não tem a autoridade de inserir seu próprio tema e suas idéias ao texto, pois o próprio lhe concede todas as partes do sermão e toda a estrutura necessária para que seja explicado.[1]
Cada porção exegética em nossas Bíblias com capítulos e versículos nos fornecem os temas e tópicos necessários para uma boa estrutura de sermão expositivo, fazendo com que o pregador se atenha ao texto e, suas pesquisas somente reforçam o contexto e não tome o lugar do próprio texto.

A pregação expositiva contemporânea

A pregação nos dias atuais está sendo deixada de lado ou alguns meios de comunicações a têm substituído, vários são os argumentos e alguns até convincentes diante de uma análise sociológica de nosso tempo. O Rev.John Stott faz uma declaração que revela o que alguns pastores têm pensado em relação à pregação:

“Os profetas da desgraça na igreja de hoje estão predizendo, com confiança, que já se passaram os dias da pregação. Dizem que é uma arte que está morrendo, uma forma de comunicação que está fora de moda...” (Stott, 2003, p. 51).

O mundo está em constante mudança, o pragmatismo religioso que em alguns anos atrás não era parte do campo religioso brasileiro agora é visível em todos os lugares e está no cotidiano religioso se manifestando nas liturgias modernas e conferências sobre crescimento da igreja, liderança e outras atividades desse tipo.
As estruturas organizacionais estão sendo formadas tendo em vista um crescimento como nunca visto antes, técnicas de liderança e marketing tem sido implantadas como uma espécie de “boom” do momento, a cada dia surgem movimentos vindos do Norte para implantarem novos modelos de crescimento. Em alguns movimentos eclesiásticos a teologia da Missão Integral, o pastorado de visitação e aconselhamento estão sendo extremamente ridicularizados e menosprezados como algo estranho e sem valor, pois esses trabalhos não produzem números e status para a igreja local.
Os líderes da atualidade não se preocupam mais com a edificação e a qualidade da igreja local, pois seus sonhos estão em mega-igrejas e lindos templos; o desejo único em seus corações é crescimento a todo custo, a frase favorita é: “precisamos preparar a igreja para crescer”.
É impressionante como os líderes cristãos estão se parecendo mais com os homens de negócios do que com homens santos, piedosos e compromissados com Deus. Uma pessoa não cristã expressou essa percepção, relatando: “porque será que tenho a impressão que quando estou sentado ao lado de um Monge parece que estou ao lado de um santo e, quando estou ao lado de um Pastor parece-me que estou ao lado de um homem de negócios”. Essa impressão não é nada irreal, pois há hoje em dia pastores que passam a maior parte do tempo com assuntos administrativos e burocráticos, alguns nem conhecem mais seu rebanho e as dificuldades que enfrentam.
A idéia de ir ao encontro da ovelha parece absurda, as ovelhas é que precisam correr atrás do pastor e marcar horário, se o mesmo encontrar um espaço na agenda, tudo bem, se não a ovelha precisa esperar ou procurar outro pastor que esteja desocupado. “Pastores muito ocupados não tem tempo para suas ovelhas e nem para cuidar do rebanho do Senhor”.
Se os pregadores estão motivados com essa mentalidade suas pregações são preparadas com idéias do mesmo tipo, a leitura bíblica não é feita com o propósito de saber a vontade de Deus e alimentar o rebanho, mas é feita para conseguir resultados em seus empreendimentos “cristãos”. Seus métodos de pregações servem aos desejos do público e caminham em direção ao que dá certo; como afirma John MacArthur:

“Quando observamos o ministério contemporâneo, vemos programas e métodos que são fruto da invenção humana, resultado de pesquisa de opinião pública e avaliação da vizinhança da igreja, além de outros artifícios pragmáticos” (MACARTHUR, 2007, p.6).

Há algum tempo atrás um pastor, professor de homilética em uma missão quando perguntaram se ele ensinava o método expositivo à resposta foi: “ensino um pouco de tudo, pois as coisas estão mudadas”.
A resposta tem em si uma verdade pedagógica que deve ser analisada, mas o significado por trás dessas palavras ilustra a idéia de nossos pregadores contemporâneos, a pregação tem que ser uma espécie de “fast food” e precisa estar de acordo com o planejamento, se o objetivo é crescer ou construir todos os esforços na pregação serão dirigidos a isso. Na linguagem desses pregadores contemporâneos se alguém quiser alcançar as pessoas será necessário usar métodos que satisfaçam e agradam os ouvintes.
Para exemplificar a influência do movimento de crescimento da igreja sobre a realidade das igrejas locais e dos ministros do evangelho basta lembrar, que o Presbítero que era o nome bíblico do oficial responsável pelo governo da igreja tem sido substituído por gestor ou grupo de gestores. Essa é uma forma pragmática de administração, pois os gestores são os responsáveis pelo planejamento e por fazer a igreja crescer.
Assim acontece com os movimentos de crescimento de igreja que tem formado a mentalidade dos pregadores contemporâneos e vem dominando muitas igrejas locais ao redor do mundo e particularmente no contexto brasileiro.
No livro Religião de Poder, quando Alister McGrath argumenta sobre o culto da personalidade ele faz uma leitura da realidade muito apropriada afirmando:

“O surgimento do teleevangelismo e ministérios de pregação tem levado a um culto crescente de personalidades dentro do evangelismo de poder. Isso é verdade não apenas nos ministérios de mídia como também nas apresentações que celebridades cristãs fazem regularmente em eventos e megaigrejas. Não é o que as Escrituras ensinam que realmente importa; mas o que fulano de tal tem a testemunhar comigo sobre suas experiências e idéias. Até mesmo para alguns pastores, não é o que dizem as Escrituras, mas o que o pregador disse que dizem as Escrituras, que tem verdadeira importância. Muitas vezes a Bíblia é totalmente ignorada; o que vale é o que Deus está dizendo agora pessoalmente a esse pregador...” (HORTON, 1998, p. 249).

Quantos pregadores estão sendo influenciados em cursos de liderança secular e aprendendo uma espécie de oratória que mexe com as emoções do público e métodos de persuasão e controle. Hoje é muito comum líderes que conhecem mais sobre neurolinguística, psicanálise e outras coisas do gênero do que conhecem a Escritura e a Teologia Cristã, infelizmente essa é a realidade de muitas igrejas e líderes cristãos.[2]  
Uma afirmação bastante coerente sobre pregação contemporânea é feita por John Macarthur Jr, em seu livro diz:

“Se a pregação deve desempenhar o papel designado por Deus na igreja, então ela deve ser edificada sobre a Palavra de Deus. Em anos passados, tal declaração teria sido óbvia, até axiomática... Infelizmente, isso já não ocorre, mesmo em igrejas evangélicas. Muitas pregações hoje destacam a psicologia, o comentário social e a retórica política. A que busca a” Relevância “... Lamentavelmente, percebe-se uma tendência no meio evangélico contemporâneo: a distancia da pregação bíblica e a retomada no púlpito de uma abordagem pragmática, tópica, centrada na experiência” (JR, 2004, p. 264).

A pregação contemporânea é caracterizada pela superficialidade e jogos de interesses, os modernos métodos de administração eclesiástica e os grandes empreendimentos religiosos roubaram o tempo de pastores e pregadores. O pregador gasta mais tempo no computador ou administrando as finanças e problemas da igreja do que com a palavra de Deus e a oração.
Essas atitudes têm dominado aqueles que são chamados para serem ministros da Palavra e tudo que se ouve em nossos púlpitos são resultados do dia a dia desses pregadores e não a genuína palavra de Deus como revelada nas Escrituras, essa é entendida pelo pregador no quarto da oração em secreto com Deus e no púlpito transborda do coração do pregador ao rebanho sedento e necessitado do alimento celestial; a palavra de Deus que edifica o cristão e salva o perdido.
Precisamos urgentemente restaurar o método expositivo na pregação contemporânea, os pregadores cristãos evangélicos precisam voltar à palavra de Deus, investir tempo em seus estudos e orações. A única maneira de edificar a igreja local e conduzir o rebanho ao conhecimento de Deus é levando os pregadores à Palavra e ensiná-los a expor os desígnios de Deus criando pontes para o mundo contemporâneo, com fidelidade e amor à Palavra.
A pregação expositiva contemporânea deve ser uma pregação centrada na Escritura, pois, segundo Jesus Cristo somente pelas Escrituras o conheceremos verdadeiramente, assim o Mestre orienta: “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim (João 5:39 – ARA)”. A pregação é bíblica e cristocêntrica quando as verdades de Deus e de Cristo é pregada conforme revelada nas Escrituras.
Também a pregação não pode ser uma exposição morta baseada em uma tradição religiosa ultrapassada e sem sentido, apenas para se defender uma postura denominacional. Mas deve ser relevante para o dia a dia das pessoas ao qual Deus está falando e interessado em edificar e transformar.
Uma proposta recente para a pregação expositiva contemporânea é a pregação expositiva temática, onde o pregador extrai do texto seu tema e expõe esse tema à luz do seu contexto, criando pontes de aplicação ao ouvinte. A pregação expositiva temática tem a preocupação com a verdade do Evangelho e com a necessidade do povo de Deus; ela se torna bíblica e relevante sem negociar a essência da revelação de Deus.
O problema não está na pregação contemporânea em si, mas nos métodos usados e na maneira como a palavra de Deus é negociada tanto nos métodos como nas novas estruturas eclesiásticas.

A pregação expositiva e a palavra de Deus

A pregação expositiva como já foi visto se propõe a explicar e aplicar o texto bíblico de forma íntegra e autêntica, recebendo assim o título de pregação bíblica.
Com essa definição podemos meditar sobre qual é a relação desse método com a palavra de Deus (Bíblia), quero esclarecer, mesmo que seja possível deduzir do texto acima.
O Senhor Jesus quando expunha um texto fazia-o como se sua exposição fosse a própria palavra de Deus, todo seu ministério foi o ministério da Palavra.
Lucas registra uma de suas exposições, onde Jesus faz uma exposição do livro de Isaías:

“Ele foi a Nazaré, onde havia sido criado, e no dia de sábado entrou na sinagoga, como era seu costume. E levantou-se para ler. Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías. Abriu-o e encontrou o lugar onde está escrito:” O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor. Então ele fechou o livro, devolveu-o ao assistente e assentou-se. Na sinagoga todos tinham os olhos fitos nele...”(Lc 4:16-20-NVI).

Segundo o costume judaico lê-se uma porção da Escritura, explica e aplica a porção, foi isso que Jesus fez. A diferença de aplicação no caso de Jesus em relação ao texto profético se deu no fato da profecia se aplicar a Ele mesmo, pois segundo o relato bíblico o cumprimento profético estava sendo realizado naquele exato momento e na vida de Jesus como o Cristo.
Depois de sua morte Jesus continua ministrando e faz uma exposição mais longa para provar sua Messianidade, seu método agora é de expor os livros da Escritura, explicá-los e aplicar aos acontecimentos atuais, essa exposição de Jesus está registrada no Evangelho de Lucas 24: 44-47.
Os Apóstolos deram continuidade a esse método deixando claro que a exposição fiel da palavra de Deus é a palavra de Deus proclamada, isso pode ser deduzido de textos como em Atos dos Apóstolos 2:14-36 e 7:1-53. Toda pregação dirigida pelos Apóstolos e discípulos eram exposições das Escrituras, toda estrutura do discurso era tirada das Escrituras e apresentadas com aplicação direta aos seus ouvintes, eles cumpriam suas responsabilidades como verdadeiros dispenseiros.
Os reformadores foram os homens que mais elaboraram conceitos profundos sobre a palavra de Deus. Sempre quando alguém escreve ou fala de pregação esse não pode deixar de lado uma das afirmações teológicas mais importantes para reforma protestante e posteriormente para a elaboração da teologia reformada, a Sola Scriptura – a supremacia da Bíblia sobre a tradição e os sacramentos.
Para os reformadores a pregação da Palavra era o próprio Deus falando. Praticamente todos os reformadores pregaram os livros da Bíblia, alguns demoravam anos pregando toda a Bíblia ou expondo um determinado livro, basta ler os comentários de João Calvino (1997, p. 24) para entender que este reformador era um expositor e exegeta por excelência: “A nossa única necessidade é a de não ter em vista nenhum outro objetivo além do desejo sincero de só fazer o bem. Assim devemos também proceder no tocante à exposição da Escritura”.
Em seu livro Creio na Pregação no capítulo um, John Stott (2003, p. 15) faz um esboço histórico sobre a pregação mostrando que todos os homens poderosos nas mãos de Deus foram homens que acreditavam que Deus agia através da pregação e que esses homens quando pregavam estavam anunciando a palavra de Deus e unicamente isso.
O Rev. Hernandes Dias Lopes falando sobre o pensamento de Calvino sobre a pregação declara:

“Calvino entendia a pregação como a vontade de Deus para a igreja, um sacramento da sua presença salvadora e um trabalho tanto humano como divino. A Palavra de Deus pregada é o cetro pelo qual Cristo estabelece continuamente seu domínio ímpar e espiritual sobre a mente e o coração do seu povo. O púlpito é o trono de Deus, do qual ele quer governar nossas almas” (Lopes, 2004, p.50).

A pregação expositiva é Deus falando através das Escrituras, usando os homens para cumprir seus propósitos de resgatar as ovelhas perdidas e edificar sua igreja, a fim de apresentá-la perfeita e transformada.
Essa pequena argumentação sobre pregação e palavra é um pouco perigosa, hoje há muitos falsos mestres que se dizendo pregadores da Palavra usurpam a autoridade divina, dizem que são inspirados por Deus e uns poucos até afirmam serem “apóstolos” e que suas igrejas são a continuação do livro de Atos.
Os textos bíblicos sobre pregação deixam claro que a pregação é a palavra de Deus, somente quando ela é bíblica e expõe fielmente o texto. Quando falamos bíblica queremos dizer que todo seu conteúdo e contextos são extraídos diretamente do texto. Paulo inspirado pelo Espírito Santo escreve para Timóteo, dizendo: “pregue a palavra...(2Tm 4:2-NVI)".
A ordem de Paulo não é para que ele usasse a palavra de Deus para comprovar suas idéias ou formular uma pregação temática com versos isolados fora de contexto. Paulo está tendo em vista o que tinha dito anteriormente na carta ao escrever no terceiro capítulo, que: “Toda Escritura é inspirada por Deus e útil...” (2Tm 3:16 -NVI), a palavra que deve ser pregada é a de Deus e, dentro de seu contexto histórico-gramatical e de seu propósito para o qual foi revelada, principalmente na encarnação.
A pregação expositiva leva o pregador a se fixar no texto e no propósito de Deus evitando que o mesmo tire suas próprias conclusões, ou viaje para uma direção sem volta, deixando de lado o que Deus quer falar.
O Rev. Hernandes Dias Lopes (2004, p. 46) faz uma afirmação sobre o pensamento de Lutero em relação à pregação e palavra de Deus:

“Martinho Lutero cria que a pregação era o meio de salvação, por não ser uma simples atividade humana, mas a própria Palavra de Deus proclamando a si mesma mediante o pregador”.

O pregador é apenas canal, vaso e arauto. O Rev.John Stott (2005, p. 12) trabalha muito bem o texto de Pedro para deixar claro que a responsabilidade do pregador é expor e fazer sua exposição ser a própria Palavra:

“... sua tarefa é expor a revelação que já foi definitivamente dada. E embora pregue no poder do Espírito Santo, ele não é inspirado pelo Espírito no sentido em que os profetas o foram. Certo, se alguém fala, deve falar de acordo com os oráculos de Deus, ou como se pronunciasse palavras de Deus” (1Pe 4:11).

Conclusão:
A pregação expositiva é sem dúvida o melhor método para a edificação da Igreja de Deus, a Bíblia continua sendo a voz de Deus aos homens para libertar, transformar e conduzí-los à vida eterna.
A Palavra nos fornece todas as técnicas de crescimento e princípios de liderança que precisamos, o homem de Deus não precisa correr atrás de recursos seculares ou informações empresariais para edificar a igreja local, o mesmo Senhor que a fundou é que cuida de sua igreja e a edifica por meio de sua presença no Espírito Santo que fala na Escritura.
O que a liderança atual precisa na verdade é “pregar a Palavra”, retornar a verdadeira pregação e amor por essa Palavra que é viva e eficaz, espírito e vida.



[1] Precisamos ser honestos em dizer que nem todos os textos fornecem essas facilidades, alguns textos são mais bem explicados se forem usados outros métodos, mas mesmo assim o pregador não tem o direito de usar o texto como quer. Sempre é necessário uma interpretação e uma aplicação correta e digna do próprio texto. O Pregador não pode esquecer que está diante da palavra de Deus e que ele como um arauto é servo da Palavra.
[2] Essas áreas tem seu valor e importância, mas muitos têm usado essas ferramentas para intimidar e
  persuadir as pessoas para que acreditem sem questionar em suas idéias e pregações.

Breve Bibliografia:
BEZERRA, Durvalina Barreto. Ministério cristão e espiritualidade. Belo Horizonte: Betânia, 2007.
BÍBLIA SAGRADA. Edição revista e atualizada. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993.
BONAR, Horatius A. Um recado para ganhadores de almas. São Paulo: Vida Nova, 2003.
BOUNDS, E.M. Poder através da oração. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1990.
BRAGA, James. Como Preparar Mensagens Bíblicas. 16ª ed. São Paulo: Vida, 2004.
CALVINO, João. Comentário de Romanos. São Paulo: Edições Parakletos, 1997.
CHAPELL, Bryan. Pregação Cristocêntrica. São Paulo: Cultura Cristã, 2002.
FISHER, David. O Pastor do Século 21. 2ª ed. São Paulo: Vida, 1999.
HORTON, Michael Scott. Religião de Poder. São Paulo: Cultura Cristã, 1998.
MACARTHUR JR, John. Ministério Pastoral. Rio de Janeiro: CPAD, 4ªEd, 2004.
KEMPIS, Thomas à. A Imitação de Cristo. São Paulo: Shedd, 2001.  
LACHLER, Karl. Prega a Palavra. São Paulo: Vida Nova, 1990.
LARSEN, David L. Anatomia da Pregação: identificando os aspectos relevantes para a pregação de hoje. São Paulo: Vida, 2005.
LIEFELD, Walter L. Exposição do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1985.
LOPES, Hernandes Dias. A Importância da Pregação Expositiva para o Crescimento da Igreja. São Paulo: Candeia, 2004.
LUFT, Celso Pedro. Mini Dicionário Luft. São Paulo: Scipione, 3ª Ed, 1991.
MACARTHUR, John. Pregação Superficial. Revista Fé para Hoje – São José dos Campos: Fiel, número 30, 2007.
MARINHO, Robson Moura. A Arte de Pregar. São Paulo: Vida Nova, 1999.
MARTINEZ, José M. Ministros de JesuCristo (Ministério y Homilética). 3ª ed. Barcelona: Clie, 1989, Tomo XI.
PETERSON, Eugene H. Um Pastor Segundo o Coração de Deus. Rio de Janeiro: Textus, 2000.
QUEIRÓS, Edson. Transparência no Ministério. São Paulo: Editora Vida, 1998.
ROBINSON, Haddon W. A Pregação Bíblica. São Paulo: Vida Nova, 1983.
SCHWARZ, Christian A. O Desenvolvimento Natural da Igreja. Curitiba: Ed. Evangélica Esperança, 1996.
SHEDD, Russell P. O líder que Deus usa: resgatando a liderança bíblica para a Igreja no novo milênio. São Paulo: Vida Nova, 2000.
SITTEMA, John. Coração de Pastor. São Paulo: Cultura Cristã, 2004.
SPURGEON, Charles H. Conselhos para obreiros: o príncipe dos pregadores aconselha os ministros da igreja. São Paulo: Editora Arte Editorial, 2004.
SPROUL, R. C. O Conhecimento das Escrituras. São Paulo: Cultura Cristã, 2003.
STERN, David H. Manifesto Judeu Messiânico. Rio de Janeiro: Edições Louva a Deus, 1989.
STOTT, John. O Perfil do Pregador. São Paulo: Vida Nova, 2005.
__________. Eu Creio na Pregação. São Paulo: Editora Vida, 2003.
WESTMINSTER. Confissão de fé de Westminster. São Paulo: Cultura Cristã, 2005.


5 de julho de 2013

Integridade Missionária



Introdução:
A cada dia que passa vê-se na obra missionária muitos obreiros decepcionados e frustrados com o Ministério. Uma questão alarmante é a quantidade de problemas de relacionamentos entre os obreiros, tanto no campo, como nas bases. Outra é o número de obreiros que retornam do campo precipitadamente.

Por essas coisas, tenho refletido sobre alguns motivos que fazem os missionários se prejudicarem emocionalmente e no trabalho em equipe. É óbvio que os assuntos aqui são resumidos, sendo assim, peço que o leitor entenda o artigo como uma breve reflexão.

Tenho por mim e não sou dono da verdade que grande parte de nossos problemas giram em torno da integridade do missionário, seja em sua vida pessoal, bem como em seu relacionamento com a equipe de trabalho, missão e igreja local.

Algumas questões e experiênciais na obra revelam isso:

Como o missionário reage à sua liderança e igreja?

Grande parte dos Líderes de Missões, seja na base ou no campo, são homens de Deus! Homens e mulheres que deixaram seu conforto, seus sonhos, suas vidas em geral para treinar, enviar, dar suporte, aconselhar, orar, visitar e representar o missionário diante da sua igreja e sociedade. Algumas dessas pessoas são Pastores, exercem a autoridade pela vocação recebida por Deus e foram comissionados e ordenados para sofrer em prol da Missão.

Conheço irmãos que deram suas casas, sítios, carros, móveis, filhos, roupas, dinheiro, profissão e muito mais para que obreiros fossem enviados ao campo. Sofreram stress, deram a cara a tapa, colocaram em risco suas famílias e até mesmo sua saúde. Tudo para que a Missão fosse cumprida, através de irmãos e irmãs de diversos lugares e culturas diferentes, uma breve pesquisa em agências ou secretarias de missões vai trazer a tona esses obreiros dedicados.

Alguns líderes são homens de oração e buscam sempre a sabedoria de Deus para regulamentar diretrizes e proteger os missionários de problemas no campo ou nos trabalhos em geral. Mesmo com todas essas qualidades, vê-se em geral reações que chocam e alarmam quem vive e estuda a obra missionária. Temos na obra missionária brasileira, obreiros que quando chegam no campo ou até mesmo durante a estadia no Brasil, que se esquecem de princípios bíblicos básicos. Os princípios de hierarquia, de seguir os passos de seus guias, ser submissos às autoridades constituídas e que Deus conduz os vocacionados a Missões falando aos líderes ou não é isso que o Espírito diz em At 13, Rm 12, Rm 13, Hb 13.7 e Ap 2 e 3?

Constantemente, vê-se missionários que levantam a bandeira da independência ministerial. “O que mais importa é o que Deus falou comigo”, agem como se a liderança fosse somente um instrumento de benefício próprio. Se a liderança oferece alguma orientação desagradável, contrariado o missionário se entristece, desanima e às vezes até se revolta. Há casos de obreiros espiritualistas, “a voz da liderança é humana, porque Deus fala diretamente somente comigo”. Fico muito preocupado com obreiros que ouvem muito Deus, pois é comprovado na psicologia da religião que isso pode ser desvio moral, problema de personalidade ou até mesmo surto esquizofrênico. Bom! Prefiro pensar que é imaturidade mesmo. Quando era criança, muitas vezes meu pai tinha que ficar falando comigo, mas quando cresci, um olhar bastava ou aquelas orientações antigas eram suficientes.

O problema disso para missões é que o missionário espiritualista vai desprezar o que a Bíblia diz e mais ainda, se tornará alguém insubmisso e emotivo demais. Outro problema é que vai desprezar a sabedoria e o bom-senso e isso quase sempre gera, soberba espiritual, desobediência, isolamento, brigas, ciúmes, ira, ansiedade, ingratidão, etc.

O Missionário é intocável?

Alguns irmãos mais empolgados com Missões consideram os obreiros que vivem esse Ministério como “Intocáveis”, podem ser vistos até mesmo acima da igreja. Abaixo transcrevo algo que escrevi quando questionado sobre o corte de sustento missionário.
Muitas coisas justificam cortar o sustento missionário pela Igreja, até mesmo porque o “enviado” é enviado pela igreja (At 13), Deus não aprova ministério autônomo, não é bíblico. No caso do obreiro estar no campo, a igreja não pode cortar sem antes trazê-lo, essas coisas se faz no próprio Pais e com cuidado pastoral, no caso de missionários urbanos é diferente. A igreja deve buscar tratar do problema e cuidar do obreiro, quando necessário até mesmo aplicar disciplina. Não é somente má conduta que justifica o cortar sustento, talvez eu seja duro demais com isso, mas se um Missionário usa a igreja apenas como fonte de recursos, desenvolve seu ministério só, sem considerar sua igreja, sem valorizar seus cuidados, etc; a igreja tem o direito de não caminhar com esse obreiro. O Missionário tem responsabilidades com sua igreja e a ela deve prestar contas e planejar juntamente com a liderança seus passos, isso é bíblico!

Os obreiros bem sucedidos são aqueles que ouvem seus liderem e são obedientes. Mesmo quando errarem, e isso acontece, Deus honrará e transformará o mal em bem. A vida de um vocacionado nunca é conduzida por homens, Deus é Soberano e Senhor da vida e da vocação, aprendamos com José, Davi, Moisés, Paulo e outros.
Nossos líderes não são nossos inimigos e lembremos que conselhos e disciplinas são provas de amor, é amarga no início, mas depois transforma e fornece crescimento.
     
Recursos Missionários

Agora gostaria de levantar uma reflexão sobre isso! Esse é um assunto muito difícil e delicado para a igreja local e agência missionária.

O sustento missionário não é uma renda salarial ou honorários ministeriais. Todos os recursos levantados pela igreja e mantenedores são para sua manutenção e ministério.
Quando os obreiros mobilizam em igrejas e pessoalmente o que é divulgado é o projeto missionário, trabalhos de campo, etc. Por isso na obra missionária todos os recursos são destinados para essas coisas. Na história de missões aqui no Brasil, já tivemos que lidar com diversos problemas em relação a igrejas e mantenedores, isso porque a reclamação sempre foi do uso inadequado dos recursos levantados. Nossos mantenedores não aceitam, e talvez com razão, quando o sustento é usado para aquilo que não é Missões.

Muitos missionários usam dos recursos para sustentar suas famílias, fazer diversas viagens, comprar carros luxuosos e outras coisas semelhantes. A questão não é se algumas dessas coisas são dignas, pois o cuidado da família e até mesmo alguns benefícios são legítimos, mas a questão é: Os mantenedores estão contribuindo para esses propósitos? O que diria uma igreja ou mantenedor se soubesse que uso meu sustento para ajudar um irmão desempregado ou para manter minha família que está passando dificuldades? O que diria se soubesse que usei o dinheiro ofertado para outra finalidade que não tem haver com Missões?
Quero refletir sobre isso e tenho certeza das críticas que virão porque a obra missionária brasileira já tem sido motivo de muitos escândalos e problemas. E também não é fácil explicar isso para obreiros e nem mesmo refletir sobre o assunto que é muito delicado! Como agência, o que fazer? Como o missionário deveria agir? Como a igreja poderá tratar dessa questão?

Outra questão que deve ser refletida é o relacionamento do Missionário com sua igreja em relação aos recursos, como mencionado acima o obreiro não deve exercer Ministério autônomo, mas é muito comum alguns irmãos tratarem a igreja apenas como fonte de recursos, é como diz em Provérbios “A sanguessuga tem duas filhas que dizem: Dá, dá. Há três coisas que nunca se fartam, Sim, quatro que não dizem: Basta:
A sepultura, a madre estéril, A terra que não se farta de água, E o fogo que não diz: Basta – 30.15. Os Missionários que têm a igreja como fonte de recursos não se submetem às orientações da igreja, não valorizam seus projetos, não retornam para prestar contas, não compartilham seus sonhos e desejos, apenas retornam para pedir e se revoltam quando são contrariados. Sua dinâmica é Dá e Dá!!

Preparo e Aprendizagem

Nossa principal função na Missão é comunicar o Evangelho. Sem preparo para o trabalho da evangelização e para uma vida relevante no campo, isso não acontecerá.
Essa questão tem virado motivo de muita dor de cabeça em alguns lugares. A realidade demonstra que missionários são se preocupam bem com isso, por isso voltam rápido e prejudicam a obra. Outros ficam tão empolgados e maravilhados com o campo que entram de cabeça no ministério e após alguns anos voltam destruídos e arrazados emocionalmente e espiritualmente.

É comprovado por especialistas em treinamento missionário, em antropologia missionária e na psicologia pastoral que o missionário precisa se dedicar a adaptação cultural e lingüística. Gostei da regulamentação que os missionários da minha igreja receberam na MNTB, os primeiros quatro anos será somente para o aprendizado da língua e para entender os símbolos da cultura. Um casal da Missão Servos esteve na Coréia do Sul, quando foram em casa me disseram que as agências na Coréia determinaram que seus missionários não podem exercer ministério nos primeiros sete anos. Tenho certeza que os missionários gerados com essas orientações trarão menos problemas e produzirão mais frutos no reino de Deus.

Como alguém pode comunicar um Evangelho supracultural sem compreender a cosmovisão do povo? Sem contextualização há problema!

O missionário se disciplina no aprendizado da língua. Deus fala ao coração e com a língua do coração! Essa tarefa é essencial e inegociável, irmão aprenda a língua. Os primeiros anos devem ser dedicados ao estudo da língua, não se deixe levar pela necessidade e nem pela cultura do relatório. O obreiro que não fala bem a língua do povo, após um período será ridicularizado e rejeitado por eles, é normal até entre nós! Também não esqueça, você não é antropólogo, mas missionário, sua Missão é Pregar o Evangelho.

Uma boa contextualização acontece com a observação, dê atenção a cultura e costumes diários do povo. Observe, observe e observe! Há situações que podem afastar as pessoas de você e travar tanto relacionamento como a comunicação.

Atenção: O missionário que não respeita o tempo de adaptação e aprendizagem logo trará problemas, tanto para o trabalho, bem como, para sua vida espiritual e emocional. Há campos em que a cultura é muito opressiva e a carga emocional é muito grande, o tempo de preparo na adaptação o ajudará a superar essas dificuldades.

Seja um obreiro aprovado, tanto na Palavra, como na contextualização da mesma. Quando a liderança de missões cobra, é rígida nessas questões, tudo isso é para seu bem e para a Glória de Deus!! Queridos missionários sejam sensíveis e humildes de coração para aprenderem e crescerem na obediência e com isso cumpra a Palavra que diz: “Seja íntegro e ande na minha presença” – Gn 17.1

Consciência Cristã

Queridos irmãos, desde sempre os cristãos tem feito acordos e estabelecido normas e diretrizes para o bom desenvolvimento do ministério cristão. Tanto a igreja local, bem como todas as instituições ligadas à igreja, devem de acordo com suas funções e propósitos, criarem estruturas de organização e funcionamento. Isso agrada ao Senhor que tem se revelado como o Deus de ordem.
A obra missionária não é diferente. Como organização as Missões de fé e denominacionais possuem estatutos, regimentos e outras cartilhas que orientarão suas práticas e também serão como instrumento de formação de perfil e valores.

Mas, qual o problema nisso?

O problema é que essas coisas não se aprendem na igreja local e às vezes nem em salas de seminários, muito menos é ensinado sobre a relação do obreiro com a agência e sua responsabilidade como cristão. É muito fácil encontrar obreiros em missões que nunca aprenderam sobre a CONSCIÊNCIA.
A questão é que no momento em que esse obreiro chega na agência desejando ir ao campo, sua única preocupação é com o treinamento básico. Após o treinamento sua ansiedade para sair é tamanha que assina contratos, faz parcerias, faz promessas, sem ao menos pensar nas conseqüências posteriores.
Após um breve período no campo, suas emoções e sonhos estão a mil, as necessidades são gritantes, aí chega aquele momento de esquecer os documentos, filosofia da missão, promessas, etc. Isso gera problemas enormes e o obreiro nem mesmo sofre com o pecado da consciência, esquece até mesmo que a palavra do cristão é sim, sim e não, não!! Para reflexão é importante uma leitura atenta para Romanos 14.22 – “A fé que tu tens, guarda-a para ti mesmo diante de Deus. Bem-aventurado é aquele que não se condena naquilo que aprova”.

Sua dedicação a Deus

Tenho ouvido em algumas ocasiões que o problema do ser humano é com aquilo que é óbvio ou simples, por isso falar de dedicação à Deus parece bem óbvio para um cristão, porém na prática deixou de ser algo imprescindível. É possível conhecer obreiros que “não se dedicam a Deus”. O devocional é inegociável!

Conclusão:

O artigo tem um cunho bem formal e objetivo, essa característica é proposital. O desejo é despertar incômodo. Se o texto deixar o missionário desconfortável a ponto de conduzí-lo a reflexão ou mesmo me escrever, o artigo cumpriu seu propósito. 

Aos Missionários

Introdução:
“Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou ser igual a Deus; antes a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo...” Fp 2.5-7

O objetivo deste artigo é cooperar com a reflexão que vem sendo desenvolvida no movimento missionário brasileiro sobre o preparo e cuidado do missionário.
A Igreja Brasileira tem passado por um período muito sensívelr no que tange a esse assunto; ao mesmo tempo em que as informações e desafios inundam as igrejas locais, a quantidade de obreiros no campo vem diminuindo consideravelmente. Ouvi recentemente de uma importante Missão do Brasil que perdeu quase a metade de seus obreiros e de outras que relatam um retorno crescente de obreiros com problemas emocionais e de relacionamentos. Ainda ouço casos de irmãos que deixam o cristianismo e são “convertidos” à outras religiões, irmãos que se revoltam com agências e se tornam frustrados com Missões.
Refletindo sobre essas necessidades, me pergunto: diminuiu o interesse por missões ou o trabalho tem sido feito com mais responsabilidade? Não seria o tempo das igrejas e agências em geral refletirem sobre suas ações? (sem dúvida ainda há muito paternalismo na obra missionária, algumas igrejas não querem responsabilidade e agências têm um controle enorme sobre a vida dos missionários, e ainda há casos de muito pragmatismo - “Vamos enviar 100, 300 Missionários, etc”).
Talvez essas coisas aconteçam devido a muitos problemas com missionários mal preparados e a irresponsabilidade de alguns que se preocupam somente com a quantidade e não a qualidade. É evidente que tudo isso gera mudança no quadro missionário brasileiro. Também suspeito que muitos males aconteçam pelo senso de emergência, esta criada por uma compreensão teológica pobre ou interesses pessoais.
Vejo essas mudanças como algo positivo, pois percebo menos saída, porém os que saem ao campo porque decidiram se preparar melhor, produzem mais frutos em mais tempo se doando ao campo.
Com o propósito de auxiliar aqueles que desejam sair e animar e fortalecer aqueles que já estão no campo, quero escrever alguns conselhos práticos e tentar motivar os corações vocacionados um desejo de serem bons missionários ou como diz à Escritura: “bons dispenseiros”, isso para a Glória de Deus – 1Cor 10.31.
Através de conversas, visitas e breves pesquisas, tenho percebido algumas características que revelam um bom missionário, seja no campo transcultural, como no urbano. Digo bom não para exaltar ou desvalorizar alguém, mas para honrar aquele irmão(a) que foi vocacionado ao sagrado ministério e tem sido levado pelo Espírito a campos de ação missionária. Além de ser vocacionado, internamente e externamente, a pessoa se dedica à comunicação do Evangelho com fidelidade e relevância e, ainda busca desenvolver um bom relacionamento com a igreja, agência, povo alvo e equipe de trabalho.
Desejo compartilhar algumas características de um bom missionário, sabendo que serei devedor de outras informações e posso ser até simplista para alguns, mas acredito que para este artigo é o suficiente e o mesmo pode contribuir para a reflexão de irmãos que tem se dedicado a busca da excelência e da Glória de Deus. Sou consciente que desagradarei a outros e alguns mais próximos podem até se sentir ofendidos, mas aguardo uma resposta de amor e misericórdia destes e de gratidão daqueles.
1.      O bom missionário é alguém de oração e servo da Palavra.
a)      Seu maior desejo é a comunhão com o Senhor e Soberano da Missão.
b)      Sua principal visão é buscar ao Senhor e comunicar o Evangelho.
c)   Seu principal compromisso na agenda é devocional, disso vem à direção de Deus para o trabalho e desafios do campo.
d)     O relacionamento com Deus fortalece a vocação e confirma os passos.
2.      O bom missionário ama os perdidos.
a)   Você já ouviu de missionários que não saem de casa porque não gostam do povo? Existe! E esse deveria sentir profunda vergonha e temor do Senhor da seara.
b)      Irmãos que freqüentam somente supermercados de estrangeiros?
c)      Não há missões sem encarnação, amor e dedicação às pessoas.
d)     É o amor que leva o obreiro a se encarnar na vida do povo e o conduz a uma vida simples. O obreiro se ajusta ao estilo de vida local e não impõe o seu!
e)      O amor leva o obreiro às casas, aldeias e ao convívio social com o povo, seguindo Jesus – Mt 9.35.
f)       Sem amor não há entrega, socialização e nem comunicação do Evangelho.
3.      O bom missionário se contextualiza.
a)    Como alguém pode comunicar um Evangelho supracultural sem compreender a cosmovisão do povo? Sem contextualização há problema!
b)      O missionário se disciplina no aprendizado da língua. Deus fala ao coração e com a língua do coração! Essa tarefa é essencial e inegociável, irmão aprenda a língua! Os primeiros anos devem ser dedicados ao estudo da língua, não se deixe levar pela necessidade e nem pela cultura do relatório. O obreiro que não fala bem a língua do povo, após um período será ridicularizado e rejeitado por eles, é normal até entre nós! Também não esqueça, você não é antropólogo, mas missionário, sua missão é pregar o Evangelho. É importante lembrar, pois o vocacionado pode ficar deslumbrado com as pesquisas e métodos e até mesmo esquecer da missão, deixando de lado a prioridade do reino de Deus.
c)   Uma boa contextualização acontece com a observação, dê atenção à cultura e costumes diários do povo. Observe, observe e observe! Há situações que podem afastar as pessoas de você e travar tanto relacionamento como a comunicação.
d)     Atenção: O missionário que não respeita o tempo de adaptação e aprendizado logo trará problemas, tanto para o trabalho, bem como para sua vida espiritual e emocional. Há campos em que a cultura é muito opressiva e a carga emocional é muito grande, o tempo de preparo na adaptação o ajudará a superar essas dificuldades.
4.      O bom missionário é servo.
a)      O obreiro em missões deve refletir o caráter de Cristo. Ele vem ao campo para servir e não ser servido.
b)      É alguém disposto ao trabalho, simples no viver e aberto para as necessidades do campo.
c)      O missionário não é Rei, somente serve, sem méritos ou status quo.
d)     O servo de Deus é humilde, íntegro e honesto em tudo que faz. Não perfeito, mas servo!
5.      O bom missionário se comunica.
a)      O missionário precisa se comunicar bem, as intercessões e suprimentos dependem da comunicação do obreiro. Uma boa comunicação gera interesse e harmonia a todos que estão do outro lado, seja como parentes, amigos, mantenedores ou líderes.
b)      Para que ocorra uma comunicação atraente e responsável o irmão(a) precisa investir tempo e paciência na preparação de informes, documentos e relatórios. Erros de português, formatação e o uso de palavras impróprias podem revelar desleixo e até mesmo problemas de personalidade e emocionais.
c)   A clareza: Busque ser claro e de atenção aos detalhes, você não escreve para si mesmo, mas para receptores de diversos níveis e tradições.
Olhe com cuidado a pontuação, palavras e formatação. Isso anima o leitor ou o faz
deixar o texto no primeiro parágrafo.
d)  A Responsabilidade: É parte de um trabalho transparente e compromissado o envio de cartas, relatórios, motivos de oração e idoneidade na comunicação com igreja e agência. Se o obreiro é ligado a alguma organização é importante comunicar todos os passos, isso por questão de ordem, submissão e consciência cristã. Não consigo ver nas Escrituras serviço autônomo no Reino, ainda que grupos separatistas defendam essa idéia, sinceramente não vejo essa realidade na vida de Jesus, dos Apóstolos e nem das Igrejas de Deus. Todos prestavam contas de seus atos como obreiros da Igreja e quando possível traziam seus relatórios a toda igreja e líderes gerais. Tenho uma impressão, posso estar errado, de que alguns obreiros brasileiros têm muita dificuldade com submissão e prestação de contas, até mesmo de trabalho em equipes por estas questões.
e)      O Respeito: Quero relatar o que ouvi recentemente de um Pastor amigo: “Os missionários não sabem se comunicar mesmo, às vezes não agüento ler as cartas. Desejo receber informações do trabalho e do campo, mas muitas vezes o que leio são exortações e repreensões”.
Tenha respeito com os leitores, seja cordial, educado e use palavras brandas. Aquele
que lê é seu parceiro e intercessor.
Obs: Não esqueça diante de uma discussão ou decisão de líderes que, e-mail é um
recurso indispensável e abençoador, porém é frio e formal. Quando você lê não está
olhando a expressão do outro, deixe de lado a interpretação nas entre linhas, isso é
traiçoeiro. Trate as questões com cordialidade, brandura, sobriedade e sabedoria – qualidades cristãs.
6.      O bom missionário é vigilante.
a)      Jesus disse: “Orai e vigiai”
b)      Cuidado com o Sr. Imediatismo, tenha paciência e faça aquilo que é correto e coerente.
c)    Cuidado com a Sra. Beleza ou Sr. Belo, principalmente o solteiro. Atenção, depois de algum tempo todos serão belos e atraentes, não perca de vista o alvo e sua vocação. Aos casados, digo não eu, mas o Senhor: mantenha seu leito sem mácula!
d)   Cuidado com a Sra. Ansiedade, irmão(a) você não é o “Salvador da pátria”, se prepare, aprenda a discernir o tempo e faça aquilo que é preciso. Não confie em seu coração! Busque equilíbrio entre razão e emoção, assim compreenda a vontade de Deus, com certeza você não é o mais interessado no campo. Deus é Senhor e tem propósitos definidos.
Percebo que alguns espiritualizam as situações, aquilo que acham ou dizem que é Deus na verdade é fruto de um coração ansioso.
É muito fácil e justificável dizer: “Deus falou; Deus quer isso; É de Deus tal coisa;
etc”. A espiritualização tem causado danos terríveis.
Não quero dizer que não acredito na condução de Deus, longe de mim isso, mas falo sobre o cuidado que as pessoas devem ter com o evangeliquês e todo esse processo de manipulação que o coração cria. Acima de tudo “O Espírito fala pela Palavra”!
e)    Cuidado com o Sr. Sustento, o missionário também é mordomo e os recursos de Deus são para seu bem estar e desenvolvimento da obra. O sustento não pode ser um meio de condenação ao missionário, mas deve ser para a Glória de Deus.
f)       Cuidado com a Sra. Glória, essa senhora tem derrubado muitas pessoas, nunca deixe de rever seus atos e palavras. Se dobre diante da orientação bíblica que diz: “... fazei tudo para a Glória de Deus” 1Cor 10.31.

Conclusão:

“A solução destes problemas é enviar missionários com maior preparo e sensibilidade cultural” Bruce Nicholls